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Docência: sobre o que e como realmente deve ser a prática docente?

Professor Doutor Sérgio Gomes de Miranda

As rápidas e dinâmicas transformações pelas quais o mundo atual tem passado exigem das profissões uma ampla gama de capacidades, de competências, de habilidades e atitudes. Todas essas mudanças, afetam e impactam os mais diferentes modos de compreensão dessa nova realidade e de suas demandas específicas.

Os profissionais, em quase todas as profissões formais desse mundo contemporâneo, global e tecnológico, precisam se adaptar, se profissionalizar, se capacitar, se formar continuamente para garantirem seus espaços de atuação, até porque também a competição é muito acirrada no mercado de trabalho.

Principalmente nas carreiras de cunho mais intelectual, esta é uma verdade sem retorno: quem não estiver capacitado, estará fora dos melhores cargos, das melhores funções, ou pior, fora do mercado.

Dentre tantas profissões importantes que se caracterizem por esse aspecto intelectual, destaca-se, nesse contexto, a profissão docente. A docência é uma das mais importantes áreas da atuação social. E, assim como a sociedade, vem passando por grandes transformações.

É um campo de estudo, de pesquisa e de trabalho voltado à transformação qualitativa da sociedade, haja vista seu investimento na alteridade, na cognição humana, na humanização das pessoas por meio da sua inserção na cultura letrada, através da aquisição e do compartilhamento de conhecimentos que confrontam as ideologias dominantes e os processos de alienação subjetiva e controles sociais.

Assim, a docência é uma forma de alteração do status quo estabelecido, para contribuir com a (trans)formação e com o desenvolvimento de pessoas para serem capazes de gerir sua existência individual e social. A começar pela própria vida do/a intelectual docente.

Em um sentido ainda mais específico, ao exercer a profissão docente, uma pessoa atua em um patamar social em que nenhuma outra profissão poderá chegar: dar existência a todas as profissões acadêmico-formais existentes.

Além de se preparar continuamente para suas práticas, o/a docente se dedica à preparação de seus/suas discentes, à formação das pessoas com as quais se relaciona. Este é outro diferencial da docência: seu caráter inerentemente ético e engajado.

A prática docente exige um vínculo ideológico muito específico com o conhecimento e com as pessoas com quem ele é compartilhado. Não se trata apenas de ensinar, de transmitir conhecimentos, de passar ao/à outro/a o que se sabe em certo campo específico do saber, como poderia pensar o senso comum sobre essa profissão.

Para muito além, trata-se de mediar a relação do/a discente com o conhecimento de uma forma política, no sentido de defender uma aprendizagem integral, holística e com relação efetiva com a vida real do/a discente.

Importa saber o que ensinar e como exercer essa mediação político-pedagógica, a quais ideologias esse conhecimento está associado, a serviço de quais forças ele está, no bojo das microrelações de poder que estão instauradas no jogo de dominação e de controle da vida social, econômica, política, cultural…

Noutro aspecto de destaque dessa profissão, ser docente é ser pesquisador/a. A docência, de uma forma interessante, que pode até parecer contraditória, haja vista a sua relação direta com o ensino, está relacionada, antes de tudo, com o aprender. Esse caráter de se fazer sempre um/a estudioso/a, alguém que faz do amor pelo conhecimento e do aprendizado uma forma de vida, é um diferencial da carreira na docência.

Nas palavras do pensador Confúcio: “Se não sabes, aprende; se já sabes, ensina”. Ou, nas palavras de Paulo Freire: “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”. Essa dialética é uma ótima demonstração do que é a vida na docência, sintetizada de forma magnífica no texto da “Alegoria da Caverna”, de Platão.

Por todas essas e muitas outras razões, a docência também carrega consigo um status social que poucas profissões detêm. Poder dizer que é docente de uma instituição; poder participar de congressos, eventos acadêmicos e carregar o adjetivo da docência; poder publicar artigos científicos, livros e colocar antes do próprio nome da autoria, esse pertencimento profissional, é uma marca de destaque social de grande valor.

Não é à toa que juízes/as, promotores/as, médicos/as, engenheiros/as, jornalistas, administradores/as… buscam universidades e e/ou demais instituições de ensino para atuarem como docentes: querem o status da profissão e o peso social que ela carrega.

A docência é uma profissão apaixonante! Por meio da prática, do fazer docente, deixamos o legado da humanização, da cultura, do desenvolvimento do intelecto humano! Ser docente é fazer uma intervenção na vida das pessoas capaz de mudá-las para melhor, para que essas mesmas pessoas mudem o mundo!

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